O “Auto da Índia” é uma obra de Gil Vicente,
que tal como os vários autos que escreveu, pretendia mostrar vários problemas
da sociedade da época. Nesta obra, é evidenciado o adultério que as esposas cometiam
quando os maridos estavam nos mares, na época dos Descobrimentos.
Gil Vicente, neste
obra, assim como em outras, desenvolvia o conceito de personagens-tipo, isto é,
personagens que propositadamente tinham um determinado tipo de comportamento que
ilustrava um tipo de pessoas da sociedade em causa, com determinadas caraterísticas, normalmente criticadas direta ou indiretamente pelo dramaturgo.
Tudo se desenrola à volta da Ama pois é ela é
falsa e leviana e engana toda a gente. Contrariamente, a moça é uma pessoa
sensata e amiga e, ao longo da obra, é ela que avisa a sua patroa que o marido
foi mesmo em viagem e quando é o seu regresso. O Castelhano e o Lemos são ambos
personagens que mostram a sua baixa classe social, mas mais que isso, a sua
pequenez. Queriam mostrar que eram ricos para impressionar e seduzir a Ama, mas
esta engana-os tal como ao marido. O marido representa os homens enganados
pelas suas mulheres que aproveitavam a sua ausência para os adulterar.
Gil Vicente queria
mostrar que por detrás da glória e da fachada épica da expansão
ultramarina, era já possível perceber as profundas alterações, nem todas
positivas, que essa expansão estava a provocar na sociedade portuguesa, no
século XVI. O objectivo de Gil Vicente não era punir o adultério, mas sim
preveni-lo.
O
dramaturgo satirizava a situação económica e política criada pela expansão que
favoreciam o adultério, os homens ingénuos que eram enganados pelas suas
mulheres, o materialismo da sociedade e a importância das aparências. Para dar
um ar mais cómico Gil Vicente utilizou os três tipos de cómico: o cómico de
situação, o cómico de linguagem e o cómico de carácter.
É
possível estabelecer um paralelismo entre a sociedade da época e a atual, daí
ser enriquecedor ler este tipo de obras. De facto, saliente-se as críticas
lançadas por Gil Vicente, nomeadamente, como dito anteriormente, a sociedade
materialista, baseada em aparências que mostram o deterioramento desta. A maior
parte das carateristicas negativas realmente não sofreram mutações ao longo dos
tempos, estando longe do que é a boa moralidade.
Por isso, estes temas, assim como esta obra perpetuam-se
no tempo, isto é, são intemporais.
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