domingo, 27 de março de 2016

Crítica a "Auto da Índia" de Gil Vicente

     O “Auto da Índia” é uma obra de Gil Vicente, que tal como os vários autos que escreveu, pretendia mostrar vários problemas da sociedade da época. Nesta obra, é evidenciado o adultério que as esposas cometiam quando os maridos estavam nos mares, na época dos Descobrimentos.
   Gil Vicente, neste obra, assim como em outras, desenvolvia o conceito de personagens-tipo, isto é, personagens que propositadamente tinham um determinado tipo de comportamento que ilustrava um tipo de pessoas da sociedade em causa, com determinadas caraterísticas, normalmente criticadas direta ou indiretamente pelo dramaturgo.
     Tudo se desenrola à volta da Ama pois é ela é falsa e leviana e engana toda a gente. Contrariamente, a moça é uma pessoa sensata e amiga e, ao longo da obra, é ela que avisa a sua patroa que o marido foi mesmo em viagem e quando é o seu regresso. O Castelhano e o Lemos são ambos personagens que mostram a sua baixa classe social, mas mais que isso, a sua pequenez. Queriam mostrar que eram ricos para impressionar e seduzir a Ama, mas esta engana-os tal como ao marido. O marido representa os homens enganados pelas suas mulheres que aproveitavam a sua ausência para os adulterar.


      Gil Vicente queria mostrar que por detrás da glória e da fachada épica da expansão ultramarina, era já possível perceber as profundas alterações, nem todas positivas, que essa expansão estava a provocar na sociedade portuguesa, no século XVI. O objectivo de Gil Vicente não era punir o adultério, mas sim preveni-lo.
     O dramaturgo satirizava a situação económica e política criada pela expansão que favoreciam o adultério, os homens ingénuos que eram enganados pelas suas mulheres, o materialismo da sociedade e a importância das aparências. Para dar um ar mais cómico Gil Vicente utilizou os três tipos de cómico: o cómico de situação, o cómico de linguagem e o cómico de carácter.
    É possível estabelecer um paralelismo entre a sociedade da época e a atual, daí ser enriquecedor ler este tipo de obras. De facto, saliente-se as críticas lançadas por Gil Vicente, nomeadamente, como dito anteriormente, a sociedade materialista, baseada em aparências que mostram o deterioramento desta. A maior parte das carateristicas negativas realmente não sofreram mutações ao longo dos tempos, estando longe do que é a boa moralidade.
   Por isso, estes temas, assim como esta obra perpetuam-se no tempo, isto é, são intemporais.

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